53 - Tachos ?!

Foto: CHARQUINHO - Abril 2007

Congresso na Floresta

Num dia de sol, à tardinha
Farta de panelas...
Da cozinha...
Resolvi dar uma voltinha
Pelo campo, a Mãe-Natureza,
Em busca de real beleza,

Fui andando até ao rio
Mas... Senti um arrepio!...
Um tremendo calafrio,
Porque, nos meus tempos de menina,
A água corria cristalina ...

Ao ver-me alí uma velha truta
- Pele enrugada ... Quase enxuta ...
Interpelou-me, bem resoluta:
- Sabes dizer-me, ó minha amiga.
Que vem a ser esta cantiga ?...

Mais adiante, uma floresta !
Fora bela! Agora, já pouco resta
Do que antes fora vida e festa ...
Vi esqueletos, em carvão
A cor negra da indignação!...

Ouvi piar um passarinho
Perdido!... Triste!... Desoladinho
Por não ter onde fazer o ninho,
As árvores, onde ele tinha vivido,
Haviam, já desaparecido ...

Nos viçosos prados de outrora
Convertidos em lixeiras, agora
Espreita a morte! ... A cada hora!!!
No que fora verde, só lixo
Se amontoa, com capricho!...

Todos reunidos, em congresso
Discutiram qual o processo
De viverem com o progresso.
Evitar a poluição ...
Julgaram ser solução:

O passarinho queria um ninho!
A truta, o seu rio limpinho!
Os prados queriam ser pasto!... Verdura !
A floresta, boa sombra e frescura !...

Mais que triste amargurada,
Pela vida malbaratada,
Por todo o lado, desprezada ...
Regressei à minha cozinha
Nesse dia de sol, já noitinha.

(Filomena – Caria)