28 fevereiro, 2008

135 - Gaivotas no rio

Eu tenho sempre Gaivotas
Do pensamento ao desejo
Que chegam em cada abraço,
Que partem em cada beijo,
Eu tenho sempre Gaivotas
Do pensamento ao desejo!
Eu trago sempre Gaivotas
Neste céu onde eu existo,
Gaivotas de dor profunda
Eu trago sempre Gaivotas
Neste céu onde eu existo,
Gaivotas de dor profunda,
Dessa dor de que me visto,
Eu trago sempre Gaivotas
Neste céu onde eu existo!
Em mim há sempre Gaivotas
Em bandos, como pardais,
Gaivotas de Liberdade,
Morrem muitas, nascem mais;
Em mim há sempre Gaivotas,
Em bandos, como os pardais!
Que eu, tenho sempre Gaivotas
Do pensamento ao desejo,
Que partem em cada abraço,
Que chegam em cada beijo,
Que nascem no Coração,
Levantam voo da mente,
Gaivotas feitas futuro
E passado e presente,
Gaivotas de todo o Amor,
De sorriso, de partida,
Gaivotas feitas de morte,
De saudade e despedida;
Que ser Gaivota é ser forte,
É ser Livre para Amar,
É ser Livre de partir,
É ser Livre de chegar,
Livremente viajando
Nas vagas de cada olhar;
E, porque me perco no tempo
Por no tempo andar perdida,
Por isso é que há Gaivotas
Dentro de mim, por toda a VIDA!...
Maria Mamede"Pelas Letras do Alfabeto"

07 fevereiro, 2008

134 - Castelos e Mouras encantadas

Foto: Shark inho

Meia noite além ressoa
cerca das aribas do mar
meia noite já é dada
e o povo inda a folgar

Em meio de tal folguedo
todos quedam sem falar.

Voltam olhos ao Castelo
para ver, para avistar
a linda moura encantada
que está triste a suspirar

Quem se atreve
quem se atreve,
ao castelo a trepar
Para vencer o encanto
Que tanto sabe encantar?

Ai que linda formosura!
Quem a pudera salvar!
o alvor do seu vestido
tem mais brilho que o luar

Doces tão doces suspiros
Onde ouvi-los suspirar?

Assim um bom cavaleiro
só se estava a deleitar
em amor lhe ardia o peito
em desejo o seu olhar

Três horas eram passadas
neste contínuo ansiar
nada importa a D.Raimundo
mais que a moura conquistar

Vai subindo muro acima
sente os pés a resvalar
ai que é passada a hora
de a poder desencantar

Já lá vem a estrela d’alva
com seus brilhos a raiar
no mais alto do castelo
já mal se via alvejar
a fina roupagem branca
da linda filha de Agar

Ao romper do dia claro
para bem mais se pasmar
sobre o castelo uma nuvem
era apenas a pairar

Jurava o povo jurava
e teimava em afirmar
que dentro daquela nuvem
vira a Donzela entrar

D. Raimundo d’enraivado
de não lhe poder chagar
por fim ganha o Castelo
mas... sem Moura para amar


(In romanceiro do Algarve de Estácio da Veiga - 1870)

05 fevereiro, 2008

133 - Noites de Amor

Foto: Shark inho

Horas Rubras

Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos sensuais e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas…

Ouço as olaias rindo desgrenhadas…
Tombam astros em fogo, astros dementes.
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p’las estradas…

Os meus lábios são brancos como lagos…
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras…

Sou chama e neve branca misteriosa…
E sou talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras
(Florbela Espanca)