12 novembro, 2009

329 - Gato Preto

Foto: Shark

Vira

O gato preto cruzou a estrada,
Passou por debaixo da escada
E lá do fundo azul na noite da floresta
A lua iluminou, a dança, a roda a festa

Vira, vira, vira
Vira, vira, vira homem
Vira, vira
Vira, vira lobisomem

Bailam corujas e pirilampos
Entre os jardins e as fadas
E la no fundo azul na noite da floresta
A lua iluminou a dança, a roda, a festa.

Vira, vira, vira
Vira, vira, vira homem
Vira, vira
Vira, vira lobisomem.

João Ricardo

328 - A Cadeira do barbeiro

Foto: Shark

A Cadeira do barbeiro

É na cadeira de barbeiro que a gente sabe o que sabe,
quando se corta a "guedelha", quando o cabelo se abate,
se faz o corte das unhas dos governantes, pois, pois...
E se ensaboa a má língua, depois.
É na cadeira de barbeiro que a gente vai fofocar,
enquanto lustra o sapato e toca, toca a engraxar.
se dá o aparo ao bigode e à vida doutros, também...
Mas nunca se diz mal de ninguém!

É dar e dar à tesoura,e as navalhadas são mil.
É no barbeiro que a conversa é baril.
Ali se sabe sempre e em primeira mão,
o que vem nos jornais, Rádio e Televisão.

É na cadeira do barbeiro que a gente sabe, pois é.
Que a D. Berta e o vizinho, são só amigos... não é?

E que o fulano da esquina, a quem se chama Doutor,
não tem canudo, não tem, não senhor.
É na cadeira do barbeiro que a gente sabe o que sabe,
quando se corta a "guedelha", quando o cabelo se abate.
Se faz o corte das unhas, dos governantes, pois, pois...
E se ensaboa a má língua, depois.
António Sala

09 novembro, 2009

327 - A Pilita

Foto: Charquinho


A PILITA ALENTEJANA

Rija, enquanto durou.
Agora q'amolengou
e antes q'a morda a cobra,
Vou atá-la c'uma corda
Pra ela nã me fugiri.
Preciso da sacudiri,
Leva tempo pá'cordari
Já nem se sabe esticari.

Más lenta q'um caracoli,
Enrola-se-me no lençoli.
Ninguém a tira dali,
Já só dá em preguiçari.
Nada a faz alevantari
E já nã dá com o monti,
Nem água bebe na fonti.

Que bich'é que lhe mordeu?

Parece defunta, morreu.
Deu-lhe p'ra enjoari,
Nem lh'apetece cheirari.
Jovem, metia inveja.
Com más gás q'uma cerveja,
Sempre pronta p'ra brincari.

Cu diga a minha Maria,
Era de nôte e de dia.
Até as mulheres da vila,
Marcavam lugar na fila,
P'ra eu lha poder mostrari !
Uma moura a trabalhari,
Motivo do mê orgulho.
Fazia cá um barulho !
Entrava pelos quintais,
Inté espantava os animais.
Eram duas, três e quatro,
Da cozinha até ao quarto
E até debaixo da cama.
Esta bicha tinha fama.

Punha tudo em alvoroço,
Desde o mê tempo de moço.
A idade nã perdoa,
Acabô-se a vida boa !

Depois de tanto caçari,
Já merece descansari.
Contava já mê avô:
"Niuma rata lhe escapou !
"É o sangui das gerações.
Mas nada de confusões,

Pois esta estória aqui escrita,
É da minha gata, A Pilita !



(autor desconhecido)