25 junho, 2009

306 - Evadir-me

Foto: Charquinho

Evadir-me, esquecer-me

Evadir-me, esquecer-me, regressar
À frescura das coisas vegetais,
Ao verde flutuante dos pinhais
Percorridos de seivas virginais
E ao grande vento límpido do mar.
Sophia de Mello Breyner Andresen

305 - Poema do Pescador

Foto: Charquinho

Quinto poema do pescador

Eu não sei de oração se não perguntas
ou silêncios ou gestos de ficar
de noite frente ao mar não de mãos juntas
mas a pescar.
Não pesco só nas águas mas nos céus
e a minha pesca é quase uma oração
porque dou graças sem saber se Deus
é sim ou não.
Manuel Alegre

23 junho, 2009

304 - Como um pássaro sozinho

Foto: Charquinho

Desencanto

É triste o meu canto
E, no entanto, vou cantando
Que o canto me exuga o pranto
Que meus olhos vão chorando

Há quem chore por um Bem
Que a vida lhe recusou,
Mas eu choro pelo Alguém
Que quiz ser e que não sou,

Canto pois, e cantarei,
Que o canto me enxuga o pranto;
- Choro de um desencanto
Que toda a vida chorei

Coimbra Resende

303 - Sr. Lagarto

Foto: Shark

O Lagarto está chorando

O lagarto está chorando
A lagarta está chorando
O lagarto e a lagarta
Com aventaizinhos brancos
Hão perdido sem querer
Seu anel de casamento
Ai! Seu anelzinho de chumbo,
Ai, seu anelzinho chumbado
Um céu grande e sem gente
Monta em seu globo aos pássaros
O sol, capitão redondo
Leva um colete de raso
Olhem que velhos são!
Que velhos são os lagartos!
Ai como choram e choram,
Ai! Ai! Como estão chorando!
Garcia Lorca

22 junho, 2009

302 - Ainda e outra vez as pessoas

Foto: Shark

PRESÍDIO

Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?

E o ventre, inconsistente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne:
É também água, terra, vento, fogo...

E sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio

vulto da Primavera em pleno Outono...
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!
David Mourão Ferreira

301 - Pessoas

Foto: Shark

LÚBRICA

Quando a vejo, de tarde, na alameda,
Arrastando com ar de antiga fada,
Pela rama da murta despontada,
A saia transparente de alva seda,

E medito no gozo que promete
A sua boca fresca, pequenina,
E o seio mergulhado em renda fina,
Sob a curva ligeira do corpete;

Pela mente me passa em nuvem densa
Um tropel infinito de desejos:
Quero, às vezes, sorvê-la, em grandes beijos,
Da luxúria febril na chama intensa...

Desejo, num transporte de gigante,
Estreitá-la de rijo entre meus braços,
Até quase esmagar nesses abraços
A sua carne branca e palpitante;

Como, da Ásia nos bosques tropicais
Apertam, em espiral auriluzente,
Os músculos hercúleos da serpente,
Aos troncos das palmeiras colossais.

Mas, depois, quando o peso do cansaço
A sepulta na morna letargia,
Dormitando, repousa, todo o dia,
À sombra da palmeira, o corpo lasso.

Assim, quisera eu, exausto, quando,
No delírio da gula todo absorto,
Me prostasse, embriagado, semimorto,
O vapor do prazer em sono brando;

Entrever, sobre fundo esvaecido,
Dos fantasmas da febre o incerto mar,
Mas sempre sob o azul do seu olhar,
Aspirando o frescor do seu vestido,

Como os ébrios chineses, delirantes,
Respiram, a dormir, o fumo quieto,
Que o seu longo cachimbo predileto
No ambiente espalhava pouco antes...

Se me lembra, porém, que essa doçura,
Efeito da inocência em que anda envolta,
Me foge, como um sonho, ou nuvem solta,
Ao ferir-lhe um só beijo a face pura;

Que há de dissipar-se no momento
Em que eu tentar correr para abraçá-la,
Miragem inconstante, que resvala
No horizonte do louco pensamento;

Quero admirá-la, então, tranqüilamente,
Em feliz apatia, de olhos fitos,
Como admiro o matiz dos passaritos,
Temendo que o ruído os afugente;

Para assim conservar-lhe a graça imensa,
E ver outros mordidos por desejos
De sorver sua carne, em grandes beijos,
Da luxúria febril na chama intensa...

Mas não posso contar: nada há que exceda
A nuvem de desejos que me esmaga,
Quando a vejo, da tarde à sombra vaga,
Passeando sózinha na alameda
Camilo Pessanha

300 - Pessoas

Foto: Shark

Poema kitsch

Tu és o meu veneno e o meu vício
uma forma de estar fora de mim
sem ti o que era espera faz-se ofício
a vontade de te ter noite sem fim
esse tu não estares, um breve indício
de flores morrendo no jardim.

Há um sítio em mim por habitar
casa para sempre em construção
há traves altos andaimes pelo ar
estaleiro abandonado junto ao chão
onde antes se julgava que era o mar
não há vagas nem marés nem barcos vão.

Se a hora de chegares fica esquecida
não mais posso esperar tua presença
o que antes era corpo tornou ferida
tudo o mais reduto de indiferença
pois onde agora a sombra estava a vida
onde antes a luz a noite imensa.

Bernardo Pinto de Almeida

20 junho, 2009

299 - Mar

Foto: Charquinho

MAR

Alto, como perdido,
o sol navega e deixa-se boiar...
A luz não cega
E o mar é só mar.

É água presa que não tem domínio
Ou gigante que morre em convulsões ...
É praia num beijo,
História antiga das embarcações.

É um destino ou gesto de partida,
sem haver esperança de chegar
É talvez uma vida...
- É apenas o Mar.
César Teixeira

298 - O Corvo

Foto: Charquinho

O Corvo

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais".

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais —
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais —
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.

Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.
"Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.
" Disse o corvo, "Nunca mais".

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos — mortais
Todos — todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais
,O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta — ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ânsia e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta — ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!
" Disse o corvo, "Nunca mais".

"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!
" Disse o corvo, "Nunca mais".

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!
Edgar Poen

19 junho, 2009

297 - Lisboa ... poemas sem fim

Foto: Shark - 30/10/2007

LISBOA

Ó Lisboa de saia arregaçada
A sorrir e a palrar à beira Tejo,
E que o sol, mal desponta a madrugada,
Vem aloirar no cântico de um beijo!

Ó Lisboa! Ó girândola de cores
A estoirarem nas fúlgidas colinas!
Lisboa das fragatas e vapores,
Das nervosas e lépidas varinas!

Minha velha Lisboa das conquistas
- Clarão de fé nas hostes infiéis –
Lisboa maravilha dos artistas,
Berço e sonho de infantes e de reis!

Ó Lisboa a cheirar a maresia
Na gente sã e rija das vielas
- Almas do mar, herdeiras da energia
Que levou mundo além, as caravelas!

Ó Lisboa das marchas e cantares
- Aleluia de coros e balões.
Ó Lisboa dos Santos Populares,
Dos presépios que embalam corações!

Lisboa linda moça sem vaidade
Irmã do Sol, alegre e descuidosa!
Ai! Quem me dera a tua mocidade,
A tua vida simples, cor-de-rosa!...
Coimbra de Resende

05 junho, 2009

296 - D.José I

Foto: Charquinho

SONETO

América sujeita, Ásia vencida;
África escrava. Europa respeitosa;
Restaurada mais rica, e mais formosa
A fundação de Ulisses destruída

São a base, em que vemos ereguida
A Colossal estatua magestosa
Que D´ELREI á memória glorifica
Consagrou Lusitânia agradecida

Mas como a gloriado Monarca justo
É bem que àquele Herói se comunique,
Que a fama canta, que eterniza o Busto;

Pombal, junto a JOSÉ eterno fique,
Qual o famoso Agripa junto a Augusto,
Como Sully ao pé do grande Henrique.
Ignacio José de Alvarenga

295 - Passeio ao campo

Foto: Charquinho

Maio

Andam caprichos
Da madrugada
Na terra exausta
De mais não ser.

Amores lentos
De caravelas,
Precocidades,
Lúcidos ais.

Redemoinho
Que a noite vence,
Escadaria
De uma ascenção

Foi um dia longo
De corpos e flores.

César Teixeira

04 junho, 2009

294 - Flamingos no Tejo

Foto: Charquinho
Flamingo

O pescoço dobrou-se sobreo
corpo róseo

uma pata encolhida descansa noutra
transformada em estaca

o flamingo adormece em si o horizonte
como flor espetada no pântano
Júlio Carrilho

293 - Amanhã

Foto: Charqinho

Manhã

Venho das nuvens
E trouxe no meu peito a madrugada

Fonte de sonho na manhã deserta,
Com estrelas pairando sobre o mar.

Acordo neste dia transparente,
Que se dilui nas praias do além,
Onde a brisa dormiu o onde nasce
O crepúsculo vivo entre as marés …

César Teixeira

03 junho, 2009

292 - Farol

Foto: Charquinho

O Farol

Na amplidão do mar alto entre as vagas se apruma
O vulto do farol como uma sentinela;

Estardalhaça o vento, e a rugir se encapela
A água negra do mar em turbilhões de espuma.

Enche a trágica noite, atroa e se avoluma
Um insano clamor nas asas da procela:
É a morte! E ao temporal que as vagas atropela
Rodopiam as naus na escuridão da bruma.

Mas, súbito um clarão a espessa treva inflama,
Acende o mar bravio, ilumina os escolhos,
E guia o rumo às naus contra os parcéis da morte...

É a vida! É o farol que escancarando os olhos,
Vira e revira em torno as órbitas de chama,
Ora ao Norte, ora ao Sul, ora ao Sul, ora ao Norte...




Victor Silva

02 junho, 2009

291 - Gaivota

Foto: Shark

Perspectiva

Uma gaivota deslizando ao longo
De um grito de ternura macerada

Surgem magias, rápidos encantos,
Quando a noite se perde na raiz.

Sem que um sorriso volte do passado,
Enegressem as rosas da manhã

No horizonte as nuvens são de prata,
Vislumbres de fantásticos navios.
César Teixeira

290 - Saudade



































Foto: Shark

SAUDADE DO TEU CORPO

Tenho saudades do teu corpo: ouviste
correr-te toda a carne e toda a alma
o meu desejo – como um anjo triste
que enlaça nuvens pela noite calma?...

Anda a saudade do teu corpo (sentes?...)
Sempre comigo: deita-se ao meu lado,
dizendo e redizendo que não mentes
quando me escreves: «vem, meu todo amado...»

É o teu corpo em sombra esta saudade...
Beijo-lhe as mãos, os pés, os seios-sombra:
a luz do seu olhar é escuridade...

Fecho os olhos ao sol para estar contigo.
É de noite este corpo que me assombra...
Vês?! A saudade é um escultor antigo!

António Patrício

01 junho, 2009

289 - Entardecer

Foto: Charquinho

Sombras

Nas horas de silêncio, quando a noite
Guardou um sonho que não teve
E nem o mudo som de um leve açoite
Vem da folhagem, onde a brisa esteve.

Eu falo às sombras, embrião do nada,
Através do passado e do futuro,
Até surgir a luz da madrugada
No limite distante em que as procuro.

Falo convosco, Sombras… Pensamento
Que vai perder-se, vago, na distância…
Temos agora o mesmo comprimento
De onda, e sonhamos nesta concordância…

Dizeis segredos que nenhuma voz
Humana deste mundo jamais disse
E ficamos tão lúcido e sós,
Como se a nossa vida se extinguisse.

Nesta paisagem onde existe o sonho
Que vai morrer assim que nasce o dia
Da luz do sol, que vejo mais risonho
Sobre o mar furioso em agonia.


César Teixeira

288 - Bailarinas

Foto: Charquinho

Dança

Rifão da morte, deltas e baladas
Palavras que modelam a cintura.

Para onde vamos se não há moradas ?

Onde nasce o momento que perdura?
Bailarinas de formas compassadas

Viajam sem perderem a ternura
César Teixeira

287 - Outra vez o Mar

Foto: Charquinho
E o Homens não compreendem

Encostei aos meus ouvidos
Dois búzios e, em seu cantar,
Ouvi as notas da mesma
Canção longínqua do mar.

Canção distante que vem
Desde quando o mundo era
Só agua, fogo, atmosfera
E a voz do homem ninguém.

Ora foi essa canção
Que os búzios quando nasceram
Escutaram em silêncio
E nunca mais esqueceram

E, assim, ficaram irmãos,
Irmãos pelo mesmo canto,
Que na areia dão as mãos
E humanamente se entendem…

Entretanto os búzios cantam
E os homens não compreendem
.

Coimbra de Resende