30 novembro, 2007

108 - Rosas Bravas

Foto: Shark

Rosas Bravas
Floriram por engano as rosas bravas
No Inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?

Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que num momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!

E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos...

Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze --- quanta flor! --- do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?

Camilo Pessanha

107 - Outono

Foto: Shark

Dia Cinzento de Outono

Sentado à minha janela
Olho através da vidraça
E vejo as folhas que caiem
E toda a gente que passa.
Baloiçando-se pelos ares,
Tombam as folhas aos pares
Sobre as pedras da calçada
Já foram verdes viçosas,
Deram força à nossa vida
E vida às próprias rosas
Agora, murchas, sem cor
Jazem no chão desprezadas.
Pois mesmo assim já calcadas
Nos transmitem seu amor,
Vão dar alento à terra
P´ra termos vida melhor
Este Outono tão cinzento
Traz-me triste cá por dentro
Também um dia a terra
Que me deu o meu sustento
Me consome e me transforma
No seu próprio alimento.
E esta dança da vida
Num constante movimento
Nunca mais chega ao fim
É isto mesmo que eu penso
Neste dia tão cinzento

(Luís Coelho Albernaz)