21 outubro, 2012

366 - Madrugada

Foto: Shark

Madrugada

Chegou num abraço a madrugada
Envolta em languidez tamanha
Trazendo, vinda não sei de onde
A cadência de uma sinfonia estranha

O brilho das estrelas reluzindo
Desce do céu em doce companhia
Sendo os teus olhos, a luz que alumia
Que aquece e incendeia, a minha poesia

Esta amizade que entre nós flutua
Cúmplices, vivendo de um amor antigo
Eternamente presos a uma só verdade

Embora longe sinto, estás comigo
Quero-te tanto mesmo não sendo tua
Meu terno amor, minha infeliz saudade

Susete Evaristo

365 - Manhã de Primavera




Manhã de primavera

Quando eu partir
Não quero:
Olhos chorosos nem flores na sepultura
Quando eu partir
Não quero:
Palavras embargadas nas gargantas
Quando eu partir
Que o sol brilhe em todo o seu esplendor
Quando eu partir
Que floresçam os campos e os caminhos
Quando eu partir
Que seja uma radiante manhã de primavera

Susete Evaristo

364 - Alentejo




Alentejo

Meu coração, acalma o alvoroço
Vê se sossegas um pouco no meu peito
Voltar ao Alentejo é doce encantamento
E o caminho como um mar imenso

Passado o Tejo ficamos bem mais perto
Desce já a paz dos campos sobre mim
E alegra-se o olhar quando depara
O rubro das papoilas… um jardim

Estar longe de ti um sofrimento
Que a vida me impôs, pecados meus
Saudade que me traz em desalento

Esta ânsia de rever-te terra minha
Faz-me acreditar que existe Deus
E regressar é sonho que acalento

Susete Evaristo

26 - Desejo


Desejo

Eu sinto a vida chegar
Em cada um dos teus beijos
Fale quem quizer falar
Que a vida só é vivida
Quando se morre em desejos.


Susete Evaristo
Foto: SHARK - Maio 2007

363 - Epílogo


















Julguei que na distância te esquecia…
Sem dor, sem qualquer ressentimento
Mas no tempo que passa dia, a dia
Nunca tu me sais do pensamento.

Não tenho mais prazer, ou alegria
Nem a luz do sol me dá algum alento
E o meu olhar que sempre te sorria
Só tem nos dias de hoje sofrimento 

Sempre que  lembro o jeito do teu ser
E a ternura que tinhas ao me ver
E o doce reluzir do teu olhar …

Amargo a minha desventura
Fecharam-se as portas da ventura 
Que a vida tem  só tristeza p’ra me dar.


Susete Evaristo

19 outubro, 2012

362 - A nossa casa











A nossa casa

A nossa casa amor, a nossa casa

Onde está ela amor, que a não vejo
Na minha doida fantasia em brasa
Constrói-a num instante, o meu desejo

Onde está ela amor, a nossa casa

O bem que neste mundo mais invejo ?
O brando ninho aonde o nosso beijo
Será mais puro e doce que uma asa?

Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos

Andamos de mãos dadas, nos caminhos
Duma terra de rosas, num jardim,

Um país de ilusão que nunca vi

E que eu moro - tão bom! - dentro de ti
E tu ó meu amor, dentro de mim


Florbela Espanca