25 agosto, 2007

57 - A neve

Foto: Shark inho – Março 2006

A Neve

Batem leve, levemente,
Como quem chama por mim ...
Será chuva ? Será gente ?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim ...

É talvez a ventania;
Mas há pouco, há poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na queita melancolia
Dos pinheiros do caminho ...

Quem bate assim levemente
Com tão estranha leveza,
Que mal se ouve, mal se sente ?
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
Do azul cinzento do céu,
Branca e leve, branca e fria ...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu !

Olho-a atravez da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho,
Passa gente e, quando passa,
Os passos imprime e traça,
Na brancura do caminho ...

Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que evança,
E noto, por entre os mais,
Os traços miniaturais
De uns pézitos de criança ...

E descalcinhos, doridos ...
A neve deixa inda vê-los,
Primeiro bem definidos,
- depois em sulcos compridos ,
Porque não podia erguê-los ! ...

Quem já é pecador
Sofra tormentos ... enfim !
Mas as crianças, Senhor
Porque lhes dais tanta dor ?!...
Porque padecem assim ?!

E uma infinita tristeza,
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza ...
- e cai no meu coração.

(Augusto Gil)

2 comentários:

regina mercia sene soares disse...

AMEI SEU POEMA "A NEVE" SINGELO E DELICADO COM A VIDA. COMPARO A NEVE COM OS NOSSOS CABELOS BRANCOS QUE COMO A NEVE ENFEITA A NATUREZA
EU TB SOU POETA. VISITE MEU SITE
www.albumdereginamerciaepoemas.com.br

Susete Evaristo disse...

Obrigada Regina mas o seu a seu dono. A maioria dos poemas que aqui publico não são meus que apenas aqui tenho uns 9 ou dez. Este "A Balada da Neve" é de um grande poeta português Augusto Gil,
do séc XIX.
Agradeço o convite para visitar o seu site o que farei de seguida.