25 agosto, 2007

58 - O sapo

Foto: Shark inho – Maio 2006

O sapo

- Olha um sapo! Ih ! que feio! ...
Vou matá-lo num instante
E traçar de meio a meio
Animal tão repugnante.

Eu não sei para que medra
Bicho tão feio e tão mau:
Vou esmagá-lo co’uma pedra
E depois cravar-lhe um pau.

- Não o mates. Porque odeias
O inofensivo animal,
E matá-lo tanto anseias ?
Acaso já te fez mal ?

- A mim não: mas, porventura,
Não sabes que os desta raça
Fazem muita desventura
E causam muita desgraça ?

- Pobre do sapo, coitado,
Que não faz mal a ninguém !
Porque há-de ser odiado,
Se afinal só nos faz bem ?

- Lança veneno a distância
E de cegar é capaz ...
- Revela ignorância
Quem to disse, meu rapaz.

- É feio não gosto dele;
Repara que boca enorme !
Não vês as rugas da pele
Como o tornam tão disforme ?

- Em tudo quanto tens dito
Há somente esta verdade:
“o sapo não é bonito”
Tudo o mais é falsidade.

É feio, sim: mas que importa
Que seja o pobre animal,
Se limpa o jardim, a horta
Sem nos causar nenhum mal ?

O prejuizo que evita
Sabes lá a quanto monta ?
Destrói, no campo que habita,
Bichinhos vários sem conta.


Vermes, caracóis, insectos,
Alguns bastante daninhos,
De que os campos são repletos
Come-os como passarinhos.

Merece-nos, pois, respeito
E as melhores atenções.
Ser feio só é defeito,
Se s~so feias as acções.

É feio ? Sim, na verdade,
Não tem o talho perfeito:
Mas que tem a fealdade ?
É o ser feio um defeito ?

Não julgues as criaturas
Somente pelas feições:
Vê se são dignas e puras,
Julga-as por suas acções.

(Do livro de leitura da 3ª classe de 1951)

4 comentários:

Anónimo disse...

Grato por tão linda poesia. Minha mãe (portuguesa) hoje com 72 anos, não cansa de declama-la. Ela também estudou com esse livro numa aldeia do Parâmio (norte de Portugal.
Obrigado.

Anónimo disse...

COLOQUE MAIS OURAS LIÇÕS DESSE LIVRO QUE DEVE SER MARAVILHOSO. 3.A CLASSE DE 1951

Susete Evaristo disse...

Caro Anónimo
Especialmente para si acabo de publicar mais uma poesia inserta no livro de Leitura da 3ª. clase de 1950/51 cujo titulo é "Pregões de Lisboa" publicação nº. 358

Anónimo disse...

Obrigado. Meu nome é leandro. Pregões de Lisboa é outra que minha mãe declama sempre, além de "plantai arvore crianças..."
Obrigadão Bj