Foto: Shark inho – Outubro 2007-09-03
A PEDRA DA CALÇADA
Arrancada, despresada,
Uma pedra da calçada,
Posta ao canto duma rua,
Lembrou o mundo ruim
E pôs-se a contar assim
Os transes da vida sua:
“Eu sou de serras distantes,
Onde as fontes, sussurantes,
P’la noite velha adormecem;
E vim p’ra a cidade enorme,
Onde nem a noite dorme
E os homens não se conhecem !
Sobre mim, passaram nobres;
Sobre mim, dormiram pobres;
Vi risos maus; dor’s sublimes,
Salpicaram-me, no entanto,
Com tristes gotas de pranto
E negro sangue de crimes.
Eu vi riquezas mentidas,
Eu vi misérias ‘scondidas,
Vi honra e devassidão;
Guardei-me dos homens falsos,
Debaixo dos pés descalços
Dos pobrezinhos sem pão”.
E aquela pedra sombria,
Muito negra, muito fria
Com um desgosto profundo,
Deixou-se ficar alí;
Não por vergonha de si,
Mas por vergonha do Mundo !
(J. Frederico de Brito)
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