20 abril, 2008

158 - O Meu rio chama-se Tejo

Foto: Shark inho

Não ser eu

Eis aqui o Mundo em arcos.
Sob as pontes, sobre os barcos.
Viagem, curva no espaço
Que em abismos se desata.
Pelo rio canta a prata
Da branca deusa ofegante…

Sem convés e sem mirante,
De que aproveita o instante?

Eis aqui o Mundo em arcos.
Curva e nuvem, recta e espelho.
Eis aqui, humanos arcos.
Comigo o esboço é desfeito.
Não ser outra, nem ser eu
Me solicita e constrói.
Voo em silêncios abertos.
Não ser, dentro da corola.
Ser só na sombra que rola,
No som que não se detém.

Só desejo não ser eu
Na vida que em mim se ateia.
Ser outra, noutra prisão?
Ser, numa outra cadeia?

Nem que os deuses me oferecessem
Mil rostos de água e areia
Para um destino gelado
De mar, pérola ou sereia,
Nem assim diria: - Ámem!

Não ser eu é que está bem
Não ser eu, nem ser ninguém.


(Natércia Freire)

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