16 março, 2008

144 - Tardes em Lisboa

Foto: Shark inho

Tardes em Lisboa

Nesta última tarde em que respiro
a justa luz que nasce das palavras
e no largo horizonte se dissipa
quantos segredos únicos, precisos,
e que altiva promessa fica ardendo
na ausência interminável do teu rosto.
Pois não posso dizer sequer que te amei nunca
senão em cada gesto e pensamento
e dentro destes vagos vãos poemas;
e já todos me ensinam em linguagem simples
que somos mera fábula, obscuramente
inventada na rima de um qualquer
cantor sem voz batendo no teclado;
desta falta de tempo, sorte, e jeito,
se faz noutro futuro o nosso encontro.
E como, em noite parda, esse escritor demente
descobre no papel as formas do seu fim,
sem desistir de ti, ainda que as água cubram
de escamas a mansa pele,
ao meu delgado corpo de ar sonoro
acto em nova aliança o antigo canto.

(António Franco Alexandre)

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