07 março, 2008

139 - O Gato

Foto: Shark inho
O Gato
Quem há-de abrir a porta ao gato
quando eu morrer?
Sempre que pode
foge prá ruacheira o passeio
e volta para trás,
mas ao defrontar-se com a porta fechada
(pobre do gato!)
mia com raiva
desesperada.
Deixo-o sofrer
que o sofrimento tem sua paga,
e ele bem sabe.
Quado abro a porta corre para mim
como acorre a mulher aos braços do amante.
Pego-lhe ao colo e acaricio-o
num gesto lento,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele olha-me e sorri,
com os bigodes eróticos,
olhos semi-cerrados,
em êxtase,
ronronando.
Repito a festa,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele aperta as maxilas,
cerra os olhos,
abre as narinas,
e rosna,rosna, deliquescente,
abraça-mee adoremece.
Eu não tenho gato,
mas se o tivesse
quem lhe abriria a porta quando eu morresse?

(António Gedeão)

Sem comentários: