20 agosto, 2008

213 - Sapatos velhos

Foto: Sharkinho

Os Sapatos

Nos cemitérios urbanos
vamos sepultando os passos,
passos jamais repetidos,
uns certos, outros em falso,
(todos diminuem a viagem,
que os roteiros diferentes
vão dar na mesma estalagem.)
Ó sapatos soluçantes
molhados (da água da chuva?)
dançamos no tempo gasto
a valsa lenta de abril,
defronte, as sandálias brancas,
mais brancas e imóveis hoje.
Recordo as noites distantes
quando pisáveis no oitão,
leve, leve, parecia
que nem tocáveis no chão,
vinha a moça de cabelos
soltos e abria o portão,
Dos longos caminhos dantes
só ficaram sete palmos.
Serei o moço calçado,
De olhos abertos, confiantes,
Em novos itinerários
Dos sapatos soluçantes.

(Mauro Mota)

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