Foto: Shark inhoSALTO À CORDA 
O cordão que nos abre
aos acres ventos de humidade e sombra, 
a luva dura nos abriga
ou é que nos enforca, nos afoga? 
Mal saltamos à terra, 
dela nos soltam como às aves
da espécie das galinhas. 
Mas o fantasma duma linha cinza, 
esse nos fecha os olhos
e diz: saltai à corda. 
E é questão então a de saber
se temos pés azuis 
ou sangue negro e goma 
que nos cape. O pé direito sobe, 
oh, que vitória, no verdadeiro ar. 
Mas que invisível fio
o puxa e traz à pequenez do outro? 
Que terror canaliza 
cada comparação? De que margem, 
de que maresia mesmo o cheiro nos agrada? 
Que pátria e que dolores? 
Que malfeição? 
(Um aceno insular 
habita o nosso olhar. 
Uma pílula pink 
dá-se ao dente que a trinque. 
E que ternura é esta, 
rosa de sal, giesta, 
serra aberta de pinhas 
toque de campainhas?) 
(Pedro Tamem, "Poemas a Isto")
Sem comentários:
Enviar um comentário