09 novembro, 2009

327 - A Pilita

Foto: Charquinho


A PILITA ALENTEJANA

Rija, enquanto durou.
Agora q'amolengou
e antes q'a morda a cobra,
Vou atá-la c'uma corda
Pra ela nã me fugiri.
Preciso da sacudiri,
Leva tempo pá'cordari
Já nem se sabe esticari.

Más lenta q'um caracoli,
Enrola-se-me no lençoli.
Ninguém a tira dali,
Já só dá em preguiçari.
Nada a faz alevantari
E já nã dá com o monti,
Nem água bebe na fonti.

Que bich'é que lhe mordeu?

Parece defunta, morreu.
Deu-lhe p'ra enjoari,
Nem lh'apetece cheirari.
Jovem, metia inveja.
Com más gás q'uma cerveja,
Sempre pronta p'ra brincari.

Cu diga a minha Maria,
Era de nôte e de dia.
Até as mulheres da vila,
Marcavam lugar na fila,
P'ra eu lha poder mostrari !
Uma moura a trabalhari,
Motivo do mê orgulho.
Fazia cá um barulho !
Entrava pelos quintais,
Inté espantava os animais.
Eram duas, três e quatro,
Da cozinha até ao quarto
E até debaixo da cama.
Esta bicha tinha fama.

Punha tudo em alvoroço,
Desde o mê tempo de moço.
A idade nã perdoa,
Acabô-se a vida boa !

Depois de tanto caçari,
Já merece descansari.
Contava já mê avô:
"Niuma rata lhe escapou !
"É o sangui das gerações.
Mas nada de confusões,

Pois esta estória aqui escrita,
É da minha gata, A Pilita !



(autor desconhecido)

7 comentários:

shark disse...

Muito bem associado, parceira!
A minha vénia!
:)

Quarto de Lua disse...

Os poetas populares são pura e simplesmente fantásticos. Está genial.

Susete Evaristo disse...

Shark, enviaram-me por mail e eu achei logo que ficava a "matar" com este gatinho da tua foto.

Quarto da Lua
É como dizes está genial.

made in ♥ love disse...

AMEI!!! :) que saudades que me deu do o meu Alentejo... quando era pequenina achava que o Alentejo era o monte do meu avô :) entretanto tomei consciência da sua grandeza ...


Um bêjinho ;)
Eduarda
Be in ♥ love

Susete Evaristo disse...

Alem de grande tem alma que se espande no seu cante. Igual a nenhum outro.
Foi também um alentejano que me enviou este poema.

Guidinha Pinto disse...

Nã sê com'aqui vim parari, mas só lhe digo que chorei de tanto rir. Li este poema duas vezes, em voz alta. Limpei a cara, molhada, e deixo-lhe um olá, boa tarde.
Também a informo que lhe vou pedir emprestado este poema.
Fique bem e parabéns pelo seu blog.

Susete Evaristo disse...

OLá Guidinha Pinto

Pois mim me deu o mesmo.
Foi chorar de tanto rir
e não consegui resistir
de o prantar por aqui.
Associado ao retrato
do malandro deste gato.

(Gato da foto e gato do dono)

Pode levar minha amiga que nos tempos que correm precisamos de
mesmo de algo que nos faça esquecer tristezas.
Um abraço