02 dezembro, 2007

110 - Lis(boa) todos os dias

Fado das mulheres de vida fácil

Certas das ruas mais tortas,
Mais sujas, ou mais sombrias,
De qualquer pobre cidade
Tem certas velhas portas,
Janelas com gelosias,
Um ar de cumplicidade…

Qualquer centro superfino
Casas tem bem semelhantes,
Mas de bem mais aparato,
Que atraem bons visitantes
Com seu grande ar clandestino
De vício rico e recato

Ali fuma, bebem, comem,
Dormem rebanhos de estrelas
A que chão caídas hoje!
Quem lá vai…, - prova que é homem:
Prova-o servindo-se de elas;
Serve-se, paga-lhes, foge…

E homens há de toda a sorte,
Doentes de todo o mal,
Tarados de todo o vício,
Que naquele amor venal,
Filho do crime e da morte
Vão buscar gosto ou flágício.

Amor …?! Nem amor nem nada,
O mais que lá vão quaisquer
Buscar a tais labirintos
É carne martirizada
Quem nem quizeram sequer
Se lá não foram famintos.

Pois que amor darão, aquelas
Com quem nos vamos deitar
Mas mal olhamos na rua?

(José Régio)

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