07 abril, 2009

272 - Lodo














































Foto: CharquinhoLamaçal
As minhas botas estão negras
Negras e pesadas desta lama,
Absurda tentação
De chafurdar neste imenso lodo
Onde crianças nuas de barrigas gordas
Me agarram as calças.

Quero apressar o passo
Atrasar-me o espanto,
Espanto de ver nomes
Que o deviam ser
Caminhar curvados,
Braços estendidos
À procura do caminho,
Outros já cansados
Imitam a sombra no chão.

Mais alem
Onde a luz do Sol se reflecte
No sangue negro de um soldado,
Um cão vadio
Leva ao mendigo
O pão seco que ele não vê.

Quero apressar o passo
Mas a lama engrossa mais,
Tanto como o meu espanto,
Porque ao lado
No passeio mais acima
Longe dos ratos que tudo aproveitam
Caminha uma dama de vestes brancas
A que peço ajuda
Mas não vê.

Quero apressar o passo
Mas o frio tolhe-me os músculos,
O frio desta terra
Onde o calor da vida
Há muito se extinguiu.

1 comentário:

XICA disse...

Não conhecia e gostei, do poema, pela mensagem.
Jinhos amiga