Foto: shark inho
MUSICA
Loira Lisboa, amolecida e calma,
Com vitrines de sol pelos passeios
E as avenidas com passeios de almas.
As tardes castas. E nas sombras mansas
Nem há crianças
A brincar na rua.
Céu rosado, menino, Céu de bruços,
A escutar os soluços
Da terra morna e nua.
Nas matas presas pelas sombras finas
Ninguém achou as sinas
Traçadas no chão brusco…
Nem os olhos das casas, aos domingos,
Espreitando ao lusco-fusco…
Erguida a noite sobre o chão brilhante
- As estações morreram com a nortada –
Não há pomba, nem luz , nem viajante,
Que pare na pousada.
Nas praças largas a abraçar fantasmas
Ficaram os pedintes de amargor.
Pés brancos, enterrados pela água,
E as mãos pendentes, pelo Céu sem cor.
Entre a música eterna da saudade
Os rios vão de corações abertos.
Ao longe,
Búzios a chorar jardins.
Ao perto,
Estátuas a sonhar desertos.
(Natércia Freire)
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