A Terra à Beira da Noite
Com o vagar da sombra da lonjura
que a tarde entorna sobre o descampado,
a distância prolonga-se e perdura
para além deste tempo limitado.
Vem de longe o aroma a terra pura
repetir as lavoiras do passado
e eu sou a mais estranha criatura
sobre a terra que sonha o céu estrelado.
O poente põe luzes na cidade,
mas a cidade nem sequer supõe
a luz dolente que o poente encerra.
Nada me sei, todo me sinto e há-de
ser sempre assim que o sol quando se põe
me põe a mim a prolongar a terra.
Martinho Marques
Foto: Shark