12 dezembro, 2010

341 - Metamorfose

Foto: Shark

Metamorfose

Odeio SIM! 
Odeio o amor!
O amor é peçonha, é reles
O amor é amargo como o fel.
O amor mente, é ilusório,
É ridículo e cruel.
O amor fere, o amor mata!
O amor não existe!
É uma trapaça!
VIVA O ÓDIO
Elejo-te bastião da minha vida
Odeio tanto quanto já amei
Odeio as pessoas e tudo quanto existe
Odeio a vida e tudo o que ela encerra
O-D-E-I-O – M-E
Mas sinto que renasço e me renovo,
Em cada dia,
Em cada  ÓDIO.

Susete Evaristo

13 outubro, 2010

340 - Garça Real

Foto: Shark

Garça Real

Ó garça que agora moras
Na mesma casa que eu
onde estou eu também tu
consideras tudo teu

Ó garça que voas alto
e entre as nuvens perpassas
lá em cima é só passeio
ou alguma coisa caças?

Ó garça que me acompanhas
em horas de solidão
és tão meiga como um gato
e tão fial como um cão

Só tens um grande defeito
ás muito desconfiada
quando vem alguém a casa
ficas logo desconfiada

Ó garça não tenhas medo
que ninguém te fará mal
desejam é fazer festas
à minha garça real

por agora aqui termino
este meu canto corrido
E mais não digo p´ra que ele
não seja muito comprido.

Elviro Rocha Gomes
Poeta popular

339 - Ovelha tosquiada

Foto: Shark

Ovelha tosquiada

Tosquiaram a ovelha.
Parece uma velha.
Tão lisa e tão fria
parece uma rã.
Umas mãos hábeis
roubaram-lhe o garbo
tirando-lhe a lã.
Assim ficou nua
no meio do prado.
Anda vaidade
passeando na rua
com lã que era sua.
E ela anda nua.

Elviro Rocha Gomes
(poeta popular - Faro)

07 outubro, 2010

338 - Espelho de Outono

Foto - Shark

Voz de Outono

Ouve tu, meu cansado coração,
O que te diz a voz da Natureza:
— «Mais te valera, nú e sem defesa,
Ter nascido em aspérrima soidão,

Ter gemido, ainda infante, sobre o chão
Frio e cruel da mais cruel deveza,
Do que embalar-te a Fada da Beleza,
Como embalou, no berço da Ilusão!

Mais valera à tua alma visionária
Silenciosa e triste ter passado
Por entre o mundo hostil e a turba vária,

(Sem ver uma só flor, das mil, que amaste)
Com ódio e raiva e dor... que ter sonhado
Os sonhos ideais que tu sonhaste!» —
Antero de Quental, in "Sonetos"

04 agosto, 2010

337 - Marco do Correio

Foto: Shark

Marco do Correio

Minha rua sossegada
Tem á beira do passeio
A coisa mais engraçada
Que é o marco do correio

Marco do correio
De portinha ao centro
Não sabes, eu creio
No que tens lá dentro

Quantas raivas e desejos
Mil respostas e perguntas
Quantas saudades e beijos
E quantas lágrimas juntas

Marco do correio
Deixa-me espreitar
Deixa que eu não leio
Nem vou divulgar

Vá lá, não fiques zangado
Deixa-me ver, por favor
A carta que tens ao lado
A carta do meu amor

Frederico de Brito / Alberto Ribeiro

31 maio, 2010

336 - A apanha do feno

Foto: Shark
Lembranças da minha infância
Está a chegar o fim de Julho Embora o tempo seja ameno É altura de ceifar o feno E o centeio para debulho
O camponês pega na gadanha,
Ceifa o feno com desembaraço Enquanto outro, no seu encalço, Junta a braçada que amanha
E o feno assim exposto ao ar Bem estendido e acamado Fica mais uns dias no prado Para amarelecer e secar
Revolve-se uns dias depois
Para voltar a ser espalhado Quando já seco é enfeixado E levado no carro de bois Trazem-se os “nagalhos” do lar Feitos de palha de centeio Põe-se o feno no entremeio E é só torcer e apertar
Os carros trazem os varais
Para segurar bem a carrada Que depois de bem apertada Ainda consegue levar mais
E a pujança do camponês
Alçando mais feno nas forquilhas Carrega ainda algumas pilhas E aperta as cordas de vez
Depois é um ver se te avias
Corro para trepar E lá no cimo bem aninhada Gravo na memória belos dias!...
Gina Ferro

09 maio, 2010

335 - Natureza Feiticeira

Foto: Shark

Natureza Feiticeira

A Natureza, contém feitiços!
É um turbilhão que nos acalma
É sombra, penumbra, luzes, viço
Pleno deslumbre para a Alma

Deleita o olhar a planura
Numa vastidão que o alonga
E como o alaga de ternura
A montanha que o ensombra

O mar bravo e tempestuoso
Embala o sono da criança
Assim, o recife escabroso
Produz ânimo e esperança

Oh! Sortilégios da Natureza
Que com tal ímpeto aquieta
E com sua calma e singeleza,
Que intensos vendavais desperta!

Georgina Ferro

28 fevereiro, 2010

334 - Teorias

Foto: Charquinho

Relatividade


Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela à dela.
Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode chamar-me Hipotenusa.
"E de falarem descobriram que eram
O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.
Escandalizaram os ortodoxos
das fórmulas euclidianas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissectriz.
E, enfim, resolveram casar-se.
Constituir um lar.
E fizeram planos, equações e
diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E casaram-se e tiveram
uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até àquele dia
Em que tudo, afinal,
se torna monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
chamado amoroso.
E desse problema ela era a fracção
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade.
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás, em qualquer
Sociedade.
(autor desconhecido)

16 fevereiro, 2010

333 - Carnaval

Foto: Charquinho; Poema daqui

Carnaval
La stagion del Carnovale
tutto il Mondo fa cambiar.
Chi sta bene e chi sta male
Carnevale fa rallegrar.

Chi ha denari se li spende;
chi non ne ha ne vuol trovar;
e s'impegna, e poi si vende,
per andarsi a sollazzar.

Qua la moglie e là il marito,
ognuno va dove gli par;
ognun corre a qualche invito,
chi a giocare e chi a ballar.

13 fevereiro, 2010

332 - Formigas

Foto: Shark
Minuciosa formiga

Minuciosa formiga
não tem que se lhe diga:
leva a sua palhinha
asinha, asinha.

Assim devera eu ser
e não esta cigarra
que se põe a cantar
e me deita a perder.

Assim devera eu ser:
de patinhas no chão,
formiguinha ao trabalho
e ao tostão.

Assim devera eu ser
se não fora
não querer.

Alexandre O'Neill